domingo, 24 de março de 2019

Paraíso

                                                          Imagem: zéfiro-via Chico Sá

Sueli não mais amava Otávio, que se transformou em um decrépito chato a fazer algumas exigências a todos em casa. A principal: abstinência de carne vermelha. Suas duas belas filhas e os dois belos filhos já não eram mais crianças e ansiavam por liberdades que Otávio insistia em interditar. Sueli casou-se com ele, quando tinha apenas dezessete anos e ele trinta e oito. Otávio estava agora com sessenta e Sueli com trinta e nove, cheia de energia. A diferença de idade não constitui obstáculo ao amor, mas a implicância destrói relações. A vida de Sueli virou um inferno, pois Otávio vigiava os seus passos, os gestos, sua fala e colocou gravador no telefone. Sueli bem que tentou ajudar Otávio, mas machista como era, não quis procurar tratamento para a sua disfunção erétil.

Enquanto Sueli cuidava da casa e fazia artesanato, para ajudar nas despesas domésticas, Otávio se contentava com a aposentadoria irrisória. Sueli era uma mulher de sentimentos opostos: queria manter-se fiel, mas seu corpo ardia em chamas. Sentia-se insegura. Sofria. Lembrava com nostalgia dos tempos em que Otávio a tratava com respeito e carinho. A autoestima estava tão baixa, que nenhum homem... Bem, até surgir João Batista em sua vida. O safado tinha um forte instinto em localizar mulheres carentes. Sueli era uma presa fácil. Começou então o assédio. Tudo com muita discrição, para tranquilizar Sueli e despistar Otávio.

                                                                  Imagem: google

Sueli estava a ponto de explodir aos assédios. João estava atento aos passos de Otávio. No dia em que ele se ausentou, aproveitou e foi à casa de Sueli. Tudo fora tacitamente combinado. Nem bem abriu a porta eles se abraçaram e se beijaram. João perguntou pelos filhos, Sueli o acalmou, fique tranquilo, não estão em casa. E foi ela quem tomou a iniciativa: arrancou a roupa de João, deixando-o como veio ao mundo. Em seguida despiu-se com desenvoltura: venha para a minha cama, fique aí, deitado... Sueli sentou-se suavemente sobre seu membro ereto, deixando-se penetrar, em movimentos frenéticos, subindo e descendo, emitindo grunhidos lascivos. Depois do orgasmo ela se debruçou sobre os ombros de João, abrindo um sorriso de felicidade. Tornaram-se amigos, amantes e confidentes. Três meses depois Sueli dispensou Otávio de sua vida. João, com receios de criar vínculos mais fortes, afastou-se discretamente. Meses depois a viu entre beijos e abraços com um jovem, na fila do cinema.
Adeus bolinhos de chuva, lamentou.


J Estanislau Filho




7 comentários:

  1. BOA TARDE J ESTANISLAU FILHO, UM ÓTIMO TEXTO. GOSTEI. SUCINTO, CONCISO E ENVOLVENTE. UM CONTO MUITO PICANTE. PARABÉNS.

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  2. Obrigado, Zé Birck. Seja bem-vindo à pagina desse escrevinhador.

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  3. Conciso, real e com um final que não era o que se esperava "e foram felizes pelo resto das vidas" ou o dramalhão do ex-marido ciumento matando...

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  4. Bom dia J. Estanislau adorei seu conto, beijos.

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  5. O texto contextualiza de forma concisa o drama de um relacionamento. Parabéns!

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