terça-feira, 26 de maio de 2020

Os Cegos


Imagem: Google

 
   Homens nas filas, alguns sérios, outros em algazarras comprando ingressos para uma partida de futebol.
    Casais sorridentes, casais distraídos na fila do teatro, para assistirem a uma peça divertidíssima.
       Nas filas, os cegos.
  Tumulto nos supermercados e em lojas de departamentos em busca de mercadorias em promoções; atropelo nos shopping's; nas ruas, máquinas envenenadas envenenam a atmosfera.
    Nas ruas, os cegos.
  Machões babam sobre seios de silicones; nas boates desejam a strep e se embebedam.
 Mulheres escolhem vestidos, calcinhas, sapatos, brincos e brincam de modelos, desfilam... Como se estivessem nas passarelas ou em novelas.
   Homens e mulheres não se entendem sobre a novela, o bem e o mal; as notícias do jornal. Se compram um carro novo ou se fazem uma viagem internacional.
    Garotos e garotas se acotovelam diante do hotel, para uma foto, um autógrafo, um aceno do novo ídolo pop, enquanto mascam chicletes e acessam a net em seus I pod's, not's.
      Moçoilas e moçoilos se sacodem ao som da nova dupla sertaneja.
      No show sertanejo universitário, cegueira coletiva.
    O krack, o kréu, o oxi sem oxigênio assustam os cegos. E os crédulos almejam o céu.
      O consumo e o suprassumo consomem os cegos.
   Além de cegos, surdos, mudos nas garras do absurdo.
J Estanislau Filho
Obs.: Esta crônica foi escrita em 1975.  Em 2013 a publiquei  no site Recanto das Letras, onde escrevo desde 2008, com algumas mudanças. Para minha surpresa ela teve quase 300 visualizações. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário