terça-feira, 12 de maio de 2020

Quando fiz 40 anos meu filho tinha 11





Quando fiz 40 anos de idade não me lembro se houve comemoração. Talvez minha ex tenha feito um bolo e cantado parabéns. Fernando, meu filho estava com 11 anos.  Neste dia 12 de maio de 2020, é ele quem faz 40.  Como o tempo passa rápido! O moleque é pai de Raul, de 7 anos, alegria nossa, para continuar espalhando o nosso DNA. Mas não coloquemos responsabilidade nele, afinal somos pais e avós e não donos de suas vontades.
     Nos meus 40 anos a terra era redonda; nos 40 de meu filho, a terra é plana. Pelo menos para o presidente da república e seus fieis seguidores. Nos meus 40 a democracia fora recentemente instalada e o presidente era Fernando Collor; nos 40 de meu filho, o presidente é Jair Bolsonaro e a ditadura vai ganhando forma, com cerca de três mil milicos em cargos públicos. Nos meus 40 anos as notícias falsas eram transmitidas por rádios, tevês, mídias impressas e por cartas anônimas; nos de meu filho são espalhadas pelas internet por robôs e milícias digitais, além, é claro, das rádios, tevês e mídias impressas. No ano em que fiz 40 anos, morreu Freddie Mercury em decorrência da AIDS; nos 40 de Fernando, morreram milhares de pessoas em decorrência da pandemia do COVID-19. Quando eu fiz 40 anos as tropas estadunidense invadiram o Iraque; meu filho, aos 40 vive o contexto da guerra híbrida, sob a liderança dos Estados Unidos.
     Como intenção deste, vá lá, cronista, é festejar os 40 anos de meu filho,  mudemos o rumo da prosa. Fernando é um pai responsável, marido de Angélica, cá pra nós, uma mulher brava, mas de coração generoso. O Raul é um menino, como o pai, inteligente e bonito. Ambos puxaram o pai-avô. E são feras no vídeo-game. Termino dizendo que os amo demais e que em outros aniversários, livres do isolamento social, a gente possa comemorar num abraço real.



Imagens: arquivo jef
J Estanislau Filho

11 comentários:

  1. Uma analogia de amor, realismo e inteligência ao citar os fatos. 👏🏾👏🏾👏🏾♥️

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, Maria Claudia. Sempre bem-vinda!

    ResponderExcluir
  3. Inteligente e humorada crônica, além de amorosa. Três gerações de Brasil. Parabéns, amigo poeta

    ResponderExcluir
  4. MUITO BELA E CARINHOSA CRÔNICA, FALAR DE FAMÍLIA, É FALAR DE AMOR. PARABÉNS, FELICIDADES MIL

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Agradecido pela generosa visita. Volte sempre! Abraço fraterno.

      Excluir
  5. Beleza de crônica, memórias verdadeiras sobre os acontecimentos.

    Parabéns pela bonita família. Se faltou o abraço, o beijo, mas em compensação sobejou carinho, é o que vale!

    Abração.
    PS: Visite o link abaixo, será um prazer receber sua visita.
    https://aparaibaesuasbelezas.blogspot.com/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grato pela gentil visita. Como gentileza gera gentileza, irei sim, conhecer suá página. Abraço fraterno!

      Excluir
  6. Muito, muito bom! Este texto nos leva a pensar sobre as mudanças que ocorreram, como: "acabamos de sair de uma ditadura e já estamos regressando para ela! Como as pessoas não vêem isso?"
    Espero que, quando eu fizer 40 anos, o mundo esteja melhor, porque, se continuar assim, quando eu fizer 40 anos não vai ter mais mundo.
    De novo, muito bom texto! Adorei!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grato, Pedro. Você uma grata surpresa, algo assim que surge depois de anos. Precisamos da energia da juventude que vem de você, para construir novos paradigmas. Conheci (virtualmente) uma menina, no Recanto (hoje ela é adulta), tinha lá uns oito anos, e já escrevia coisas maravilhosas. Vá em frente, mas com cautela, pois vai precisar de tempo pra estudar. É isso, quando quiser, o blog está aberto aos seus escritos. Felicidades.

      Excluir