sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Nas Trilhas da Chapada Diamantina

 


Morro do Pai Inácio e lago em Igatu, imagem: Jefil


O sonho de conhecer a Chapada Diamantina foi interditado pela pandemia da COVID-19. Mas assim que a vacinação se intensificou começamos a refletir sobre realizar o sonho. Sentimentos opostos tomavam conta do meu ser: tristeza pelos milhares de mortos e sequelas emocionais deixadas em parentes e amigos; alegria pela redução dos casos e o retorno das atividades, ainda que, parcialmente. As reflexões pareciam não ter fim: desemprego, fome, milícias, custo de vida, perda de direitos sociais, os incêndios devorando flora e fauna. Por outro lado o sentimento de querer viver. E a certeza de que a chuva benfazeja chegaria, para fazer brotar a vida, na natureza e nos corações. Fôramos informados de que chovera bastante na Chapada. Hora de pegar a estrada. Tínhamos outro impedimento: faltávamos o conhecimento das trilhas e um veículo, que suportasse o tranco. O problema seria logo solucionado com o convite de Larissa e Ricardo, que conhecem cada palmo da Chapada. Nosso primeiro destino era o Vale do Capão. No caminho, fotos do Morro Pai Inácio e uma parada para conhecer o Poço do Diabo. Lá eu pensei: o mundo não vai acabar pela ação dos malignos. Mergulhamos no poço e nos fartamos de beleza. No Capão fizemos duas trilhas, da Purificação, que tem no percurso a Angélica foi a mais "pesada", com cerca de 6km de rio, pedras e vegetação. Almir elogiou a resistência de Antonia. Sem querer fazer trocadilho, vale a pena conhecer o Vale do Capão. Ao retornarmos, passamos por Lençóis, cidade histórica e charmosa. 

  Não tardou muito para que Larissa e Ricardo nos convidassem a conhecer outra parte da Chapada. Dessa vez, na companhia de Dona Irá e Nelson. Destino: Mucugê. No caminho, uma parada em Igatu, lugarejo ideal para pousar uns dias e saborear silêncio e paz. Mucugê me fez lembrar a minha querida Tiradentes. Ruas calçadas de pedra, com muitas pousadas, comida boa, clima ameno e ao redor, as cachoeiras de águas de cores avermelhadas, limpas. Beleza de encher os olhos. Disse a Antonia, que moraria em Mucugê, de boa! Nesses dias tive pouco tempo para lembrar da desordem que tomou conta do Brasil. Ah, o preço da gasolina...

  Aqui encerro esta breve crônica. As imagens falam por si.


J Estanislau Filho 

Imagens: Jefil










sábado, 25 de setembro de 2021

Ladrão de Porco


 Imagem: Google

Todos conhecem o significado de ladrão de galinha. Estes pobres coitados, que vão presos, enquanto os de colarinhos brancos... Deixa pra lá.
Existe o ladrão de porco. Bem diferente do ladrão de galinha, pois roubar porco exige técnica. Porco faz um barulho dos diabos. Porco é o cão chupando manga debaixo d’água. Além de gritar, esperneia, dá coice e morde. Corre da panela como o diabo corre da cruz.
    Mas, para seu Álvaro, tarefa simples, sopa no mel. Seu Álvaro foi um pistoleiro afamado em Jampruca, nos cafundós de Minas, nas décadas de cinquenta e sessenta. Além de porco, roubava boi, cavalo, qualquer coisa.
Seu Álvaro queria comer carne de porco. Aproveitando a ausência de Seu Ernesto, esposo honrado de Dona Maria, foi lá no chiqueiro desse bom homem e pegou um à luz do dia. Um porquinho pequeno, fácil de carregar nos braços, sem necessidade de peia. Porquinho bonito, na verdade um leitão, mas ainda necessitado de engorda. Prendeu o suíno em um pequeno cercado à espera de que ele ganhasse umas gorduras.
    Como em Jampruca só se ouvia dizer, especialmente em se tratando do homem que virava cachorro (breve contarei este caso), o bochicho chegou ao ouvido de Seu Ernesto. Também ao ouvido de Seu Álvaro. A população comentava o caso a boca pequena. Isso incomodou o pistoleiro, que foi à casa de Seu Ernesto e o “convidou” a ir à sua casa, para confirmar se o porco era dele. Seu Ernesto foi, viu o porco. Olhou, apalpou o bichinho, que o reconheceu e não teve dúvidas: “Não, esse não é o meu porco. O meu tinha um focinho branco, uns pêlos loiros. Esse aí tem o focinho e pêlos de outra cor”.
    Seu Álvaro olhou bem no fundo dos olhos de Seu Ernesto, levantou ligeiramente a camisa, deixando à vista o trêsoitão e foi categórico:
    - Pois intonce, Seu Ernesto, o senhor espaia no povoado, que o porco é meu. Tô com os ovido e as zoreias quemano, sinar di qui tão sujano meu nome na praça. Tamu combinado?
    O assunto do desaparecimento do porco, com o perdão da palavra, morreu ali.


J Estanislau Filho

Obs.: Crônica caipira escrita em janeiro de 2016 e publicada no Recanto das Letras.


sábado, 4 de setembro de 2021

MENSAGEM RÁPIDA

 



Imagem: Clube de Autores


Meus caros amigos, minhas caras amigas,

Prova de Vida é uma reunião de minhas melhores crônicas escritas nos últimos seis anos. São textos curtos, como convém nesses tempos corridos, mas de conteúdo, creio, que vai te agradar.

Parir um filho, ou filha de papel não é tarefa simples. Fazê-lo(a) chegar às mãos e aos olhos de leitores de leitoras é um desafio. É também uma forma de resistência, e claro, alegria.

O livro está pronto, graças ao apoio de vocês, mecenas da cultura popular. Para adquiri-lo peço que me enviem seus endereços completo para o e-mail jestanislaufilho@gmail.com ou pelo zap 32-9963-0023, para que eu possa enviar, devidamente autografado.

Quanto ao pagamento, façam pelo meu Pix da Caixa (a chave é 14091151604) ou depósito em minha Conta Poupança da Caixa: Agência 0151 Conta 00039681-1 em nome de José Estanislau Filho.

O valor do livro é de R$40,00 com o frete incluso.

Agora, se você preferir, pode comprar no site da Editora Clube de Autores. No site procure pelo título Prova de Vida. Segue o link: https://clubedeautores.com.br/


LIVRO: UM PRESENTE INTELIGENTE!





Antecipo agradecimentos

J Estanislau Filho


terça-feira, 24 de agosto de 2021

Comunicação 2




A comunicação confere poder. Nela expressamos ideias e desejos. De alguma forma queremos convencer e algumas vezes sermos convencidos. Mas para que isso aconteça, precisamos de bons argumentos. Na medida em que alcançamos determinado número de pessoas, logo vem o desejo de ampliar.  No momento estou tentando convencer leitoras e leitores a adquirir meu próximo livro de crônicas, Prova de Vida. Mas me falta um veículo poderoso: a chamada grande mídia, ou mídia empresarial, como a TV Globo, por exemplo. E se além da tv, tiver rádios, revistas e jornais impressos, aí o bicho pega. Eu me lembro, por exemplo, do extinto Domingão do Faustão, agora do Huck, quando algum músico se apresentava para divulgar o novo CD, hoje quase uma peça de museu, na segunda-feira a procura do lançamento abarrotava as lojas. Sucesso garantido. Como tantas e tantos, navego à margem da indústria cultural.

     O poder que os grandes veículos de comunicação exerce sobre o nosso comportamento é enorme. A internet quebrou um pouco a hegemonia, mas continuam produzindo consensos na política, na economia, enfim, como disse aí atrás, no nosso comportamento.

     Cerca de sete grupos de mídia empresarial controlam a comunicação no Brasil, com TV, rádios, jornais e revistas:


Grupo Globo:  69

Grupo RBS: 57

Grupo Abril: 74

Grupo Band: 47

Grupo Record: 27

Grupo Silvio Santos: 26

Grupo EBC (Gov. Federal): 46


Realmente é muito poder de comunicação nas mãos de poucos.

     



 

J Estanislau Filho


domingo, 22 de agosto de 2021

Comunicação


 Imagem: Google

A comunicação é vital ao ser humano e aos demais seres desde os tempos imemoriais. Necessário à saúde física e mental e a perpetuação das espécies. Sem comunicação não há evolução. De algum modo todas e todos comunicam suas ideias e desejos.  Os povos originários, tempos atrás enviavam suas mensagens pela fumaça. Para não irmos tão longe, em tempos recentes os humanos interagiam por cartas escritas à mão, além, óbvio, das conversas face a face, que permanecem. Os caixeiros viajantes tiveram um papel importante na comunicação, levando notícias de parentes que moravam em comunidades distantes, onde os correios não chegavam e muitos não sabiam ler e escrever.
     Os tempos mudaram. A comunicação também. Com as novas tecnologias as distâncias encurtaram. Hoje podemos falar e ouvir as pessoas pela tela do computador e do celular. Tudo muito rápido. Ou melhor, numa velocidade, que não temos, muitas vezes como acompanhar. A pressa é tanta, a ponto de não termos paciência de ler um romance de, digamos, cem páginas.  Na internet, então, um texto de cem caracteres corre o risco de não ser lido.

J Estanislau Filho


segunda-feira, 12 de julho de 2021

Eu Também Vou Reclamar - 3

Imagem: Google
 


 

eu também vou reclamar
de um modo diferente
o mundo será melhor
se cuidarmos do ambiente
dessa nave incandescente


se a consciência ecológica
ecoar dentro de nós
invertendo esta lógica
o horário será anti-horário
com resultado ao contrário


a contrariar prognósticos
de efeitos catastróficos
o meio ambiente ficará inteiro
e viveremos em harmonia
sob o signo da alegria


para uma vida de conforto
o pouco será bastante
casa comida diversão e arte
quem sabe passear em marte
em uma nave flutuante


o planeta terra será água
será terra será floresta
será bicho será festa
peixes e dias nascendo
noites anoitecendo



sem sustos e medos
a hipocrisia arremedo
de um passando distante
o universo será vasto
como o coração dos amantes

J Estanislau Filho



Do meu livro Palavras de Amor - página 39


No prelo: Prova de Vida



 



terça-feira, 29 de junho de 2021

Eu também vou reclamar 2







Meu ouvido virou paiol
de estocar reclamações
não sou luz nem farol
a indicar as direções

reclamam da Previdência
e da falta de providência
que o trânsito é caótico
e as estradas esburacadas
tento mudar o foco
com uma boa risada
e me chamam de debochado
para lá de alienado

as reclamações são tantas
e eu acabo ficando tonto
reclamam do ônibus e do metrô
de motoristas mal educados
e das ruas lotadas de camelôs
até mesmo do pobre coitado:
uma esmola por amor de Deus
reclamam cristãos e ateus

na polícia só tem crápula
a extorquir o rico dinheiro
de pessoas sem máculas
que trabalham o ano inteiro

e assim caem em contradição
pois somos todos canalhas
não há como abrir exceção
a nossa fala é como navalha
que de tão afiada corta
fundo pessoas vivas e mortas

nem mesmo o que morreu
em seu túmulo tem sossego
reclamam de tudo a esmo
ah morreu? antes ele do que eu!

quanto ao tal homem do campo
dizem ser um grande mentiroso
que não trabalha assim tanto
na verdade é um preguiçoso
que se trabalhasse direito
que se suasse no eito
sobre a mesa teria mais alimento
e sobremesa de complemento

reclamam disso e daquilo
de fulano sicrano e coisa e tal
que comida vendida a quilo
não é lá muito legal

mas tem uma reclamação
para levar-se em consideração
ela é mesmo sensacional
quando falam de poluição
e do aquecimento global
e das multinacionais

reclamam de incêndio nas matas
e atiram cigarros acesos em beira de estrada
em casa não separam cascas das latas
latem para o motorista de táxi
reclamam dos moto-boys
de ciclistas e das taxas
falam feito maritacas

xingam policiais e bandidos
reclamam de drogas e dragas
que os humanos são vendidos
e nos sem-tetos jogam pragas

motorista berrando com pedestre
como se fosse extra-terrestre
que só pode andar no passeio
pois o carro perde o freio

então, “ta lá um corpo estendido no chão”
não foi o motorista que perdeu a direção
e tome reclamação
morreu um songamonga andando na contra-mão
porque se tivesse pegado uma ponga
talvez morresse não

as ruas são para os carros
aceleram buzinam tiram sarro
do cara que anda a pé
sai daí ô barnabé!

eu que tenho os pés como meio de locomoção
tomei a minha decisão
vou me juntar aos loucos
e reclamar do muito e do pouco
reclamar também do médio
já que não existe remédio
de curar reclamação

onde já se viu coisa tão vil?
quero já meu rivotril
e para ficar de vez tantã
também vou de lexotan!
e... segura o tchã amarra o tchã!

J Estanislau Filho


Do livro Palavras de Amor - primeira edição 2010 - Editora 24 horas

Onde encontrar:

www.livrariacultura.com.br e www.biblioteca24horas.com




 

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Eu também vou reclamar


não aguento mais ouvir tanta reclamação
prestem bem atenção
reclamam dos impostos
da saúde pública e privada
reclamam da educação
da juventude desviada
reclamam da aposentadoria que veio
da que virá
e da que não veio
reclamam por reclamar
reclamam da coleta de lixo
reclamam da biblioteca
que o salário é uma merreca...
reclamam da fila para pagar
da fila para receber
reclamam de lá e de cá
reclamam de não sei de quê
que frio e calor são irritantes
reclamam dos livros nas estantes
reclamam de quem pede esmolas
e até dos que andam com sacolas
que as pessoas são frívolas...
reclamam do vizinho
do cocô de passarinho
a chuva é um tormento
a seca insuportável
reclamam dos alimentos
reclamam do automóvel
ora do preço ora da qualidade
reclamam da vida na cidade
mas viver na roça
picado por muriçoca
presta não
que é ruim a solidão...
reclamam da cemig
reclamam da copasa
reclamam comigo
e com a dona de casa
reclamam do computador
do televisor de plasma
até mesmo de uma pobre lesma
do telefone fixo e do celular
não param de reclamar
que em minas não tem mar...
até o vento incomoda
são chatos desfiles de moda
o cachorro que não para de latir
o gato o peru e o pavão
para tudo que existir
tem reclamação
e até o que não existe
nem sequer foi inventado
alguém sempre insiste
isso ficará logo estragado
dor de cabeça e nó nas tripas
bem melhor que tulipas
que horror pimba na gorduchinha
ripa na chulipa...
tudo ataca os nervos
o sangue ferve
as pernas doem
os rins corroem
reclamam do prefeito
reclamam dos vendedores
todos têm defeitos
corruptos e corruptores
empresários são sonegadores
reclamam do futebol
das cartas e dos cartolas
que a nossa seleção não decola...
reclamam das cartomantes
das escadarias
dos elevadores
dos fumantes e das tabacarias
dos andaimes
dos andares e andores
reclamam senhoras e senhores
reclamam alunos e professores
reclamam do médico
dos odontólogos e ornitólogos
que somos carentes de ética e de psicólogos...
filhos reclamam dos pais
pais reclamam dos filhos
que a culpa é do País
e das balas que furam vidros
reclamam dos netos e da buchada de bode
reclamam de quem fode
da macaxeira e até da erva-cidreira
como reclama esse povo
que a maconha é uma porqueira...
reclamam da cadeira de balanço
e do balanço das empresas
a fazer dos clientes suas presas
ouço e isso e me canso
o marido não presta
a mulher não trepa
o galo canta na hora errada
o sapo com a mesma toada
o grilo enche o saco
o vaga-lume ilumina o vácuo
o colchão é duro mole
e está mofado
que todo mundo está magoado...
diacho o cachorro fez xixi
reclama-se de tudo por aqui
reclamam da queda na bolsa
reclamam do furo no bolso
dólar subiu o dólar caiu
que o petróleo não é nosso
que hugo chavez é imbecil
onde já se viu?
a grande mídia não gosta do moço
reclama do presidente deputados e senadores
ah são todos impostores
e se fazem de valentes
com os tais vereadores...
a imprensa é mentirosa
só noticia coisas horrorosas
reclamam dos assaltos
reclamam de muros altos
que os sapatos não têm saltos
a previdência é morosa
reclamam do sutiã e das cuecas
reclamam dos carecas
dos cabeludos e sem pelos
que a vida é um novelo
novelas não têm zelos
reclamam da tinta de cabelos
que a vida virou uma novela...
e apelam para a ignorância
reclamam da abstinência
alimentar e sexual
reclamam da inteligência
reclamam da falta dela
tudo muito vulgar e banal
reclamam dos astutos
reclamam de João e Manoela
reclamam dos prostitutos e das prostitutas
que somos todos filhos da fruta...
eu também vou reclamar
faço questão de anotar
registrar em meu diário
estou falando sério
como é injusto o judiciário
de juízes misteriosos
feita as exceções de praxe
sejamos práticos
não proferem sentenças
entrar com ação na justiça não compensa
os juízes são apáticos
o que se espera de suas decisões
são sentenças à luz da constituição
que a justiça seja justa
com a cidadã e o cidadão


J Estanislau Filho



Poema do livro Palavras de Amor - página 12 - primeira edição 2010 - editora Biblioteca 24 horas


quinta-feira, 17 de junho de 2021

Marcela e Crisóstomo

Imagem: Google


Montada em seu cavalo, Marcela galopava pelas planícies do planalto. Era de uma beleza exuberante. Os cabelos longos e perolados esvoaçavam sob a carícia do vento. Era de uma candura, que seduzia a todos. Trazia nos lábios rosados um sorriso esplêndido, deixando à mostra os dentes brancos como leite. Os que a viam perdiam-se de amor e desejo. Marcela declinava os inumeráveis pretendentes, pois queria preservar sua liberdade. Sua beleza ganhou o mundo. De todas as partes vinham homens e mulheres, para ver e se encantar por Marcela.

Eis que um dia o jovem Crisóstomo a intercepta em sua cavalgada nas planícies do planalto central, com a suave melodia vinda de sua flauta. Marcela freia a montaria, para ouvir a canção. Ouve e observa ao redor, até visualizar o jovem, no topo de um morro, sentado sobre o tronco de uma árvore. Crisóstomo continua a melodia, interrompida pelos aplausos de Marcela. Desce o morro com a agilidade que a juventude premia. Marcela desce da montaria e, movidos por uma força interior incontrolável, o jovem casal se abraça. Marcela e Crisóstomo não veem o tempo passar. Sobre a relva, declaram seu amor. Quando a noite chega e as primeiras estrelas jogam luz sobre o amor nascente, testemunhas das juras e promessas de amor eterno. Os encontros se tornam rotina, sempre às escondidas, distante dos olhares da legião de seguidores de Marcela.

Surgem comentários maliciosos. Marcela e Crisóstomo são alvos da inveja. Suas vidas, ameaçadas. Por outro lado, os que apoiam, também se manifestam e fazem um escudo protetor em volta desse amor puro. Os pais aprovam, felizes, o romance e começam os preparativos ao enlace matrimonial. Agora Marcela cavalga pelos páramos em companhia de seu amor.

Aproxima-se o dia de núpcias. Tudo preparado com requinte. O lugarejo está em festa, ruas enfeitadas; os invejosos vigiam pelas frestas das janelas, remoendo de ódio. Crisóstomo aguarda no altar a entrada de Marcela. Os sinos tocam, o maestro aguarda a entrada triunfal da noiva, a mais bela e cobiçada de toda a região do planalto central, para iniciar o repertório musical escolhido pelos jovens noivos.

Marcela está atrasada. Os convidados esperam. Alguns consultam o relógio. O padre mostra-se inquieto. Comenta-se em voz baixa, que as mulheres sempre atrasam, por vaidade ou perfeccionismo. O tempo passa. Os sinos silenciam. Porquê Marcela demora? É o que cada convidado pergunta em seu íntimo.

Um mensageiro entra e conversa ao pé do ouvido do pai da noiva, que em seguida, dirigi-se ao padre. Os convidados cochicham entre si.

Marcela optou pela liberdade, anuncia o vigário, completando: - Voltem para suas casas, mas se preferirem, vamos todos comemorar. Afinal, o banquete e os músicos esperam. Quanto a você, Crisóstomo, que cara é esta?

- Cara de alegria, seu vigário. Se Marcela é feliz assim, porquê prendê-la? Voltarei aos páramos com minha flauta, livre!

Consta que Marcela e Crisóstomo continuam se encontrando nos campos, sob as carícias das águas dos rios, lagos e cachoeiras, longe dos olhares amestrados pelas normas artificiais.


J Estanislau Filho


Inspirado em uma passagem de Dom Quixote. 


 

sábado, 29 de maio de 2021

Quem levou a política aos quartéis foram os generais


 

Por Fernando Brito



Embora tenham o direito de estarem indignados com o fato de Jair Bolsonaro fazer gato e sapato da disciplina militar, nossos generais não podem reclamar: foram eles que deram asas à cobra que agora os constringe com o poder que tem.

Faz anos – desde o governo Dilma – que Bolsonaro passou a ser “arroz de festa” em todas as solenidades militares que reunissem tropa, especialmente as solenidades de formaturas. De tudo: cadetes, sargentos, aspirantes…

Todas elas foram transformadas em eventos sindicais compulsórios: ali estava o “herói” que defendia melhores soldos, mais franquias e benefícios e, sobretudo, o “mito” que sustentava a ideia de que uma força armada tenha o direito originário de definir os rumos do Brasil.

Ao mesmo tempo, isso se reproduzia nas polícias militares, com a anuência evidente dos comandos, reforçando as sua aproximação com as milícias, que são um ente paralelo, aceito e consentido, em muitas formações policiais.

Muitos oficiais superiores, comandantes – majores, coronéis e generais – assistiram e patrocinaram comícios dentro de seus quartéis, tendo Bolsonaro como candidato, o que ele é, sem intervalos, desde 1988, quando se elegeu pelos votos amealhados com a ameaça de explodir bombas por melhores soldos para os militares.

Não o teriam feito sem a anuência, ainda que por omissão, do comando do Exército.

O Exército Brasileiro está colhendo, nesta crise, os frutos da transgressão que praticou por anos a fio, com objetivos políticos.

Tem a chance de tomar uma posição que possa começar a corrigi-lo, mas não a terá se fizer uma punição à flagrante transgressão de Eduardo Pazuello, mesmo que tenha de aguentar, com cara feia, uma intromissão presidencial para anulá-la.

Comando não pode ser exercido sem cara feia.


Fonte: https://tijolaco.net/quem-levou-a-politica-aos-quarteis-foram-os-generais/


segunda-feira, 24 de maio de 2021

Prece do Perdão

Imagem: Google


Oh Deus, suplico seu perdão
pelo suplício que causei
às pessoas, aos animais,
ao meu país e aos demais


Peço perdão pelas feridas
que provoquei em meus filhos,
as mágoas que causei às mães
e aos pais


Peço perdão por ter sido omisso
no momento em que as chamas
consumiam a biodiversidade
da Amazônia, do Pantanal


Por minha culpa
minha máxima culpa
peço desculpas
aos povos originários
pelo meu silêncio genocida


Imagem: Google


Peço perdão pela falta de empatia
com os que têm fome e sede
sem uma cama ou uma rede de descanso


Peço perdão aos negros e negras,
por mim e por todos os brancos
e brancas fartos de preconceito


Peço perdão pelo meu egoísmo
ao não doar o carinho do abraço
ao irmão e irmã carentes


Peço perdão aos milhares
de mortos pela Covid
e aos seus parentes e amigos,
por ter sido covarde
no momento em que mais precisavam


Peço perdão pelos que se aliaram
ao vírus mortal em aglomerações,
pela indiferença com os infectados
e com os profissionais de saúde


Oh Deus, conceda-me o perdão
pela falta de consideração aos garis,
que correm riscos às suas saúde,
mantendo as ruas limpas;
pelos trabalhadores de aplicativos,
que nos fornecem o alimento e outros serviços





Imagem: Google


Peço alívio e conforto aos que sofrem
a perda de entes e amigos queridos,
pela crueldade da autoridade máxima,
que não fez sequer o mínimo
para salvar vidas


J Estanislau Filho

sábado, 15 de maio de 2021

amante

Imagem: Google


 amante das árvores
    das flores
das cores do mundo
  amante das aves
do céu e dos galhos
  de folhas verdes
    secas e caídas
    naturalmente
  amante da vida

J Estanislau Filho


Imagem: Google


sábado, 10 de abril de 2021

A Saudade

Imagem: Google - Itabirinha-MG


 A saudade é a ânsia
de atravessar a ponte
do rio de nossa infância,
beber a água da fonte,
saciar a sede da adolescência

A saudade é chama gigante
que arde o coração da gente,
a vontade de rever
com os olhos do agora
o que a memória traz de volta

A saudade chega marota,
trazendo alegria d'outrora,
para nos lembrar que a vida
passa num piscar d'olhos...

J Estanislau Filho


Imagem: Google - Jampruca-MG


terça-feira, 30 de março de 2021

Olhar


Sou do tempo dos monóculos
Azuis, vermelhos, amarelos...
Achava aquilo um espetáculo!


Em um segundo
no brotar  da vida 
via a janela do mundo!


Rosa Alves






sexta-feira, 19 de março de 2021

Resistir Urgente



NINGUÉM de bom senso pode negar que estamos atravessando um momento dramático, tentando sobreviver em meio a maior tragédia vivida pela humanidade. Uma guerra mundial em que os países não se enfrentam, mas todos utam contra um inimigo terrível: um vírus letal.

    É claro que nessa luta alguns países estão tendo mais êxito, enquanto outros por incompetência e ignorância de governantes,  estão em pior situação,  caso do Brasil.

   Desnecessário citar os erros, provocações, maus exemplos... É preciso no entanto, despertarmos  para algo indispensável e urgente: resistir para sobreviver à tragédia. Resistir da forma que nos for possível, acionar tudo que esteja ao nosso alcance e que tenha amparo nos Direitos Inalienáveis dos cidadãos à Vida. Não podemos simplesmente ficar inertes, sentados em poltronas e assistindo ao noticiário das tevês que apontam a escalada da tragédia. Não podemos ficar esperando a morte chegar.  Precisamos exigir as vacinas, se possível, mantendo o distanciamento, indo às ruas, além de manter e seguir o que recomenda a medicina. Precisamos reagir. Juro.

  Por fim cito uma frase de Lawrence: "Já não há caminhos fáceis à nossa frente; temos que contornar obstáculos, pular por cima deles e isso porque temos que viver, seja qual for a extensão do desastre". Bingo. Inté.



Dartagnan Ferraz

Escreve no Recanto das Letras





terça-feira, 16 de março de 2021

assim que a chuva cair


assim que a chuva cair
a alma florir
o amor invadir os corações
serão novas as estações

o sol vai acordar a noite
fazer brotar um novo dia
e se a noite for de breu
a natureza a quis assim
manto de nuvens no céu
embalando as estrelas

dias e noites de festa
com pão e circo... e poesia
colheita farta

assim que a chuva cair...

J Estanislau Filho





 

quinta-feira, 11 de março de 2021

Vermelha


vestiste a cor do amor
do desejo
camisola vermelha
vieste saciar a sede
na fonte dos lençóis
cor de sangue
vermelha e sensual
o encontro de yin yang


J Estanislau Filho



 

domingo, 28 de fevereiro de 2021

O Sapo

Imagem: jef


A Maga ama os animais. Domesticou um papagaio, que diz bipolar. Mas papagaio é fácil. Aí ela domesticou um sapo, a quem deu o nome de Joel, que brinca com o papagaio. Uma festa em que Isaias se recusa participar. Até mesmo com uma serpente a Maga fez amizade. Agora surgiu no quintal um sapo enorme. Segundo a Maga, linda e que será companheira de Joel, pois ela jura ser fêmea. Desta vez Isaias não fugiu do assunto: - É uma rã, Maga! Em seguida pegou o boné e foi catar pequi. Na porteira de entrada da chácara vislumbrou Raul, um menino esperto, que também ama os animais. Ele adotou um jabuti.

     - Oi Raul - chamou Isaias -, quer entrar?

     - Quero sim, fiquei sabendo que apareceu um sapão grandão aí, é verdade?

     - Apareceu, está lá dentro de casa. Vai lá.

     - Obrigado Seu Isaías, gosto muito de bichos. Os sapos são importantes no equilíbrio ecológico e na cadeia alimentar. Se tem barulho de sapo na lagoa, sinal de que a vida está em movimento, né?

     - Você falou, tá falado, Raul.

     A Maga recebeu Raul feliz da vida. Apresentou-lhe o sapo.

     - Não é lindo, Raul?

     - Muito muito muito..., posso sugerir um nome?

     - Pode sim!

     - Que tal Bil?

     - Mas Raul, eu acho que é fêmea. O macho é delgado...

     - Delgado?, que é isso?

     - Mais fino, magro.

     - Eu acho que é macho. Vamos fazer um trato: eu chamo ele de Bil e você coloca um nome nela. Depois a gente pesquisa pra saber se é macho ou fêmea, então, o que acha?

     - Fechado, vamos chamá-lo de Bil. Assim que a gente consultar um biólogo pra saber se é macho ou fêmea, definimos o nome.

     - Mas Maga, que nome você vai dar a ela?

     - Hum! me ajuda...

     - Bolota, pode ser?

     - Fechado, agora me dá um beijo!


J Estanislau Filho


Da série Outras Espécies



 

Imagem: ffe






Pesquisa


Os sapos são pequenos animais anfíbios pertencentes à Ordem Anura.
A ordem dos Anuros abrange mais 5000 espécies de sapos, rãs e pererecas. Os sapos pertencem à família Bufonidae, com cerca de 454 espécies. No Brasil, grande parte das espécies é encontrada na Mata Atlântica e na Amazônia.

A vida dos sapos é intimamente relacionada com a água. A água é fundamental para sua reprodução e a umidade garante a respiração cutânea.

O Bufo marinus (sapo-cururu) é a espécie mais comum no Brasil (...)
Os sapos alimentam-se de aranhas, besouros, gafanhotos, moscas, formigas e cupins. Algumas espécies maiores podem comer pequenos pássaros e até mesmo outros sapos.
O sapo captura suas presas através da língua, bastante ágil e extensível. A língua é ainda pegajosa e faz que o alimento fique grudado até ser levado para o interior da boca (...)



Fonte: https://www.todamateria.com.br/sapos/


sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

O tempo em três tempos



O Tempo


Mal me desperto e quando dou por mim, o tempo já se foi e eu não fiz nada .
Com tantas coisas fora do lugar e eu aqui sem tempo, passada.
O tempo não é mais meu amigo?
É,...o tempo esta de mal comigo.
Reflexo no espelho, o tempo agora quer me enganar - pior - consegue.
E depois vem a conta para eu pagar .
Ah tempo sem graça!
Vai, seguindo nessa farsa ...
Porém, resolvi ter uma prosa com ele.
É sábio, com ele não vou mais me meter .
Falei baixinho pra ele não se amargar, querendo adoçá-lo pedi com carinho, para ele me dar mais um
tempinho, assim passando pela minha vida devagarinho .
Não ,não vou mais me zangar mesmo ele estando a me marcar.
Perdemos boa parte da vida ,quando passamos com o tempo a reclamar .

(Inspirando no poema de Viviane Mosé- Vida e Tempo)



Medida


O que foi feito da medida?
Perdemos a medida?
Ou nunca tivemos a medida?
E assim estamos prontos para vida, uma vida sem medida.


Meus Olhos


Acostumada com a escuridão, sua luz me incomodava, feriu os meus olhos.
Seu brilho era como flechas vindo em minha direção.
Passei a te evitar .
As trevas me abraçavam.
Julgava ter o que eu precisava, mas o tempo foi passando e eu me mortificava.
Não sabia explicar, ou melhor, sabia.
Queria tua face presenciar! Como fazer? Tua luz tentei apagar, porém foi em vão.
Mas logo me dei conta, que não necessitava de luminosidade para te ver, pois com teu brilho e
com o meu amor em meu coração eu já te enxergava.

Cleonice Borges


Biografia

Cleonice Borges nasceu em São Paulo Capital em 1.961 Na infância se encantava com as histórias infantil que lia em livros e gibis da Disney. É apaixonada por literatura, escreve prosa e versos.

 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

O amor voltou

Imagem: Google


Demorou mas veio
devagarinho e meiga
trazendo nos dedos
carícias e nos lábios beijos
para espantar nossos medos

No começo mansa
mas aos poucos avança
com suas unhas relâmpagos
arranha meu corpo
entre beijos e trovões

Me entreguei a esse amor
que aplacou o calor
do meu corpo e da terra
chuva benfazeja
a natureza não erra


J Estanislau Filho


Imagem: Google


terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Os Pobres


 


"Quanto aos pobres, vós sempre o tereis, mas a mim nem sempre tereis". (João 12:8)


De tão pobre não tinha onde cair
morto estava desde que nascera
de um útero que jamais pedira
num ambiente que não escolhera

Em meio a pobreza nasceu
alimentando nos primeiros meses
de tetas murchas  que às vezes
um tênue fio de leite jorrava

Nesse ambiente de escassez
onde a morte é uma constante
brotava nos olhos do infante
sede e fome de uma vida farta

Mordia os seios com avidez
na ânsia de saciar a fome
enquanto a mãe chorava
a dor que a consumia

Aos oito era um adulto
pernas finas e cambotas
fez o seu primeiro furto
na mercearia mais próxima

A mãe preparou a refeição
ovo frito arroz e feijão
comeram e se fartaram
sentados no meio-fio

E no meio-fio tombou
ao som duma bala milícia
"bandido bom é bandido morto"
foi a manchete de triste notícia



J Estanislau Filho






sábado, 30 de janeiro de 2021

O Ciúme

 




Chegou de leve
entrou pela casa
em volta da mesa
num gesto suave
          bebeu o café

Foi para a sala
olhou o ambiente
sem sequer uma fala
bem simplesmente
          sentou-se no sofá

Alterou o semblante
ao ver na estante
um buquê de rosas
imaginou mil coisas
           o que será?

Seguiu para o quarto
viu mancha na cama
ouviu-se um grito
de enorme drama
           o pior ainda virá!

Abriu a gaveta
com estilete na mão
rompeu a aorta
o corpo no chão
           num gesto final.




J Estanislau Filho


segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Haicais politicamente corretos




Vacina, quando
a morte nos abraçar?
Renúncia já!



A Índia não
enviou a vacina.
O cão não quer da China



Não sou coveiro
E daí, tamanduá?
Só sei matar!


Vacina pouca
minha dose primeiro
jacaré inteiro



Genocida diz:
É só uma gripezinha
Chacal contradiz



Vai já vai Jair
o demônio vai cair
hiena abre os dentes



Coronavirus
Imprensa distraída
Passa a boiada


Quero respirar
mas falta oxigênio
Mico vai buscar



A saúde está
sem saúde ministro
Corvo sinistro

J Estanislau Filho

Todas as imagens: Google