segunda-feira, 28 de julho de 2014

Os Dentes Brancos de Priscila



     Priscila tem a boca cheia de dentes brancos. Faz questão de um sorriso largo.
   A alvura de seus dentes se mistura com a da pele. 
   Ela é toda branca, branca como a neve. Seria Priscila a Branca de Neve?
   Olhos e cabelos castanhos produzem um contraste simétrico, se isso for possível. Em Priscila é possível.
   Inclusive ausência. Às vezes ela parece estar em outra órbita.
   Tem um estrabismo quase imperceptível, o que a deixa com um ar de mistério.
   Ela fala e sorri ao mesmo tempo, enquanto olha pra lugar nenhum...
   Usa roupa e sapatos brancos. Quando fala, as palavras são brancas.
   Quando ela se debruça sobre mim sinto seu hálito. Branco.
   E quando seus dedos aveludados tocam minha boca, estremeço.
   O coração dispara. Ela percebe e pede calma.
   Aproveito um instante de distração, para observá-la: Está séria, compenetrada. Inteiramente entregue...
   Os lábios são levemente cor-de-rosa. 
   Imagino-a passeando em um imenso jardim de rosas brancas... Como identificar Priscila entre as rosas?
   Então vejo um sorriso esplêndido. É ela.
   Fecho os olhos e a deixo fazer o seu trabalho.
   Saio do torpor quando ela diz "pronto, pode se levantar", depois de jogar água em minha boca e ofertar-me um lenço branco.
   Então ela marca nova consulta e diz convicta: "Mais duas sessões e este canal estará inteiramente curado".

J Estanislau Filho

Do meu livro Crônica do Amor Virtual e Outros Encontros, pagina 26 - Protexto - www.protexto.com.br


   

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