sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Das Minhas Lembranças 38

 

Feira de Nova Contagem


Fui fazer uma palestra sobre educação ambiental em uma escola do bairro Nova Contagem.  Mas antes conto um pouco do surgimento do bairro, próximo ao bairro Retiro. 
     Newton Cardoso fora eleito prefeito de Contagem em 1972, ainda  sob a ditadura militar (lembrando que o regime permitia eleições municipais, disputado por apenas dois partidos, o MDB, oposição de fachada e ARENA, da situação) ano em que cheguei ao município,  vindo do interior,  cheio de sonhos. Newton governou  de 1973 a 1977 e de 1983 a 1986,  sempre pelo MDB.  A carreira política de Newton teve início nesse período até chegar ao Governo do Estado e se elegendo várias vezes deputado federal.  Uma de suas promessas de campanha era doar lotes e casas. Nesta época não existia o plano diretor e os bairros surgiam sem planejamento algum. Os empreendimentos imobiliários vendiam lotes e apenas abriam as ruas com tratores, tudo sem infraestrutura.  Depois os moradores se viravam para conquistar,  junto aos órgãos governamentais as melhorias, como água, luz, coleta do lixo e transportes. Calçamento, escolas, postos de saúde e outras melhorias,  seriam em outro momento, quando o novo bairro passara pelo adensamento desorganizado.  Enquanto a água  não chegava, abriam cisternas.  O despejo do esgoto era em fossas.  Primeiro a cisterna, depois levantar o barraco, pular pra dentro e fazer "gato",  pra conseguir luz.  Enquanto isso, a iluminação era à luz de velas.  Aí o Newtão entrou com a promessa de dar casas. Assim nasceu o Nova Contagem. 
     Voltando a palestra, fui bem recebido pela coordenadora da escola.  Não me lembro o nome dela. Em uma sala, a professora reuniu os alunos e as alunas para eu começar a conversa. Nem bem iniciara, eis que entra um aluno, acredito que entre 12/13 anos, senta-se ao lado da professora e a abraça, em seguida dá-lhe um beijo na face e fala pra mim: - Minha professora é linda, né professor? Um silêncio constrangedor toma conta da ambiente.  A professora pede ao jovem para não interromper. Volto a falar sobre a necessidade de participação dos moradores na preservação do meio ambiente.  O inquieto aluno volta a interromper a minha fala, conversando alto com alguém.  A professora pede licença e  o retira da sala.  Continuo a palestra. Depois das perguntas e respostas, encerro. 
     Antes de ir embora, tomo um cafezinho na cantina da escola. A professora me pede desculpas pelo "incidente" e me conta que o jovem aluno "é irmão de um traficante, que sempre aparece na escola,  armado, para defender seu protegido, no caso de algum processo disciplinar". 




J Estanislau Filho

4 comentários:

  1. A difícil tarefa dos professores e a falta do Estado em áreas menos favorecidas dando margem a atuação de milicianos e traficantes. Antonia Castro

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  2. Tudo muito caótico em meio a disciplina ambiental. E o tráfico de drogas enrustido no meio das escolas. Meus parabéns, parceiro das letras. Um abraço com carinho de sempre.

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