No curto tempo em que militei no movimento sindical metalúrgico, conheci companheiras e companheiros que se se entregavam à causa com tamanha intensidade, que não era fácil acompanhar. Berzé e Maria Antonieta me arrastavam, mas de vez em quando eu escapulia para ver um filme ou para escrever A Construção da Estrada de Ferro.
Tinha um outro companheiro que não me sai da memória: Joaquim José de Oliveira, o Seu Joaquim. Tivesse vivo, completaria 100 anos nesse 2021 de pandemia e genocídio. Lembro dele com uma "capanga" preta pendurada no ombro, onde carregava boletins e panfletos. Ou ainda vendendo temperos de casa em casa, momento propício, para ele fazer a sua "pregação". Digo pregação por ele ser evangélico. Um evangélico, diria, diferente. Ele não se curvava diante dos adoradores do Deus Dinheiro. Contrapunha, e se os membros continuassem adorando o bezerro de ouro, ele rompia e ia à procura de outra igreja, arrastando consigo alguns fiéis.
Certa vez eu fora designado, para ser um espécie de assessor dele. Ajudá-lo a compreender a dialética; a luta de classes, enfim, dar-lhe um suporte teórico. Mas Seu Joaquim tinha convicção ideológica. Se algum rótulo lhe cabe, creio o de socialista cristão.
Me lembro bem dele, com sua voz de trovão ecoando nas assembleias do sindicato: "O trabalhador só come carne quando morde a língua". Uma frase que retrata bem os dias atuais, de desemprego, fome, corrupção e milícias.
Seu Joaquim foi o primeiro candidato negro e pobre a Senador por Minas Gerais. Ele merece um registro a altura de sua biografia: um livro, um documentário.
J Estanislau Filho
Obs.: As imagens de Seu Joaquim foram cedidas por Eugenio Lobo
Na luta por uma sociedade mais justa existiu e existe muitos Joaquim. Bela homenagem.
ResponderExcluirSim, sem dúvida. Grato. Beijos
ExcluirAbraco, Estan!!!!
ResponderExcluirGrato, amigo. Melhoras aí pra Tuta.
ExcluirQue emoção ler o seu texto, Stanislau! Lembro demais dele na minha cozinha, as pernas super abertas, sempre risonho, sempre cheio de palavras e imagens, sempre disposto a fazer alguma coisa pela causa. Axé, seu Joaquim!
ResponderExcluirObrigado, Suzana. Precisamos de sua memória aqui, você fez parte dessa luta. Abraço.
ExcluirConheço muitos Joaquins e também evangélicos.
ResponderExcluirÓtimo texto.
Valeu, Angela. Como vai a nossa Frei Inocêncio? Volte mais vezes.
ExcluirLembranças saudáveis... também me lembro dele com muita intensidade. Tinha prazer em ouvir seus discursos, principalmente na porta da Belgo. Um revolucionário de verdade.
ResponderExcluirÉ isso aí.
ExcluirSempre bom estar por dentro de casos assim! De pessoas que se entregam a lutar. Parabéns!!!
ResponderExcluirObrigado, Marli. Sempre bem-vinda. Abraço.
ExcluirBela homenagem a quem a merecia! Um abraço da Beatriz
ResponderExcluirGrato, Béti.
ExcluirSomos todos Joaquins. Somos todos personagem de uma crônica mais antiga do que nós. Parabens meu irmão.
ResponderExcluirE isso mesmo, Cabral. Abraço fraterno.
ExcluirMeu avô!😍 só orgulho!!
ResponderExcluirLegal, neta de Seu pai.
ExcluirSaudades tio vc me ensinou muito!
ResponderExcluirOpa, Sobrinha de Seu pai. Bem-vinda!
ExcluirVc me ensinou muito tio amigo e pai!
ResponderExcluirEnsinou a mim também. Grato pela visita!
ExcluirÉ isso aí. Me ensinou muito também
ExcluirMeu pai, com tantas convicções e certezas, meu orgulho
ResponderExcluirObrigada, Estanislau, pela bela homenagem ao meu pai, um homem com pouca escolaridade formal, mas muito conhecimento de mundo.
ResponderExcluirEu quem agradece. Seu Joaquim foi (é) uma referência pra muitos e muitas.
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