quarta-feira, 7 de abril de 2021

Das Minhas Lembranças 2


 

No curto tempo em que militei no movimento sindical metalúrgico, conheci companheiras e companheiros que se se entregavam à causa com tamanha intensidade, que não era fácil acompanhar. Berzé e Maria Antonieta me arrastavam, mas de vez em quando eu escapulia para ver um filme ou para escrever A Construção da Estrada de Ferro.


Tinha um outro companheiro que não me sai da memória: Joaquim José de Oliveira, o Seu Joaquim. Tivesse vivo, completaria 100 anos nesse 2021 de pandemia e genocídio. Lembro dele com uma "capanga" preta pendurada no ombro, onde carregava boletins e panfletos. Ou ainda vendendo temperos de casa em casa, momento propício, para ele fazer a sua "pregação". Digo pregação por ele ser evangélico. Um evangélico, diria, diferente. Ele não se curvava diante dos adoradores do Deus Dinheiro. Contrapunha, e se os membros continuassem adorando o bezerro de ouro, ele rompia e ia à procura de outra igreja, arrastando consigo alguns fiéis.





Certa vez eu fora designado, para ser um espécie de assessor dele. Ajudá-lo a compreender a dialética; a luta de classes, enfim, dar-lhe um suporte teórico. Mas Seu Joaquim tinha convicção ideológica. Se algum rótulo lhe cabe, creio o de socialista cristão.


Me lembro bem dele, com sua voz de trovão ecoando nas assembleias do sindicato: "O trabalhador só come carne quando morde a língua". Uma frase que retrata bem os dias atuais, de desemprego, fome, corrupção e milícias.


Seu Joaquim foi o primeiro candidato negro e pobre a Senador por Minas Gerais. Ele merece um registro a altura de sua biografia: um livro, um documentário.





J Estanislau Filho


Obs.: As imagens de Seu Joaquim foram cedidas por Eugenio Lobo


26 comentários:

  1. Na luta por uma sociedade mais justa existiu e existe muitos Joaquim. Bela homenagem.

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  2. Que emoção ler o seu texto, Stanislau! Lembro demais dele na minha cozinha, as pernas super abertas, sempre risonho, sempre cheio de palavras e imagens, sempre disposto a fazer alguma coisa pela causa. Axé, seu Joaquim!

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    1. Obrigado, Suzana. Precisamos de sua memória aqui, você fez parte dessa luta. Abraço.

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  3. Conheço muitos Joaquins e também evangélicos.
    Ótimo texto.

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    1. Valeu, Angela. Como vai a nossa Frei Inocêncio? Volte mais vezes.

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  4. Lembranças saudáveis... também me lembro dele com muita intensidade. Tinha prazer em ouvir seus discursos, principalmente na porta da Belgo. Um revolucionário de verdade.

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  5. Sempre bom estar por dentro de casos assim! De pessoas que se entregam a lutar. Parabéns!!!

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  6. Bela homenagem a quem a merecia! Um abraço da Beatriz

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  7. Somos todos Joaquins. Somos todos personagem de uma crônica mais antiga do que nós. Parabens meu irmão.

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  8. Vc me ensinou muito tio amigo e pai!

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  9. Meu pai, com tantas convicções e certezas, meu orgulho

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  10. Obrigada, Estanislau, pela bela homenagem ao meu pai, um homem com pouca escolaridade formal, mas muito conhecimento de mundo.

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    1. Eu quem agradece. Seu Joaquim foi (é) uma referência pra muitos e muitas.

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