quarta-feira, 28 de abril de 2021

Das Minhas Lembranças 6


A Rádio Peão* era a nossa forma de comunicar sobre o andamento da greve e os passos seguintes. Mantínhamos também contato permanente com o comando de greve, no sindicato. Recebemos orientações via Rádio Peão de aumentarmos a presença na Mannesman. Os ônibus especiais, que levavam os trabalhadores eram escoltados por viaturas policiais e seguiam diretos ao pátio interno das duas maiores fábricas, dificultando a abordagem.  Decidimos intervir à partir dos itinerários e dos pontos iniciais, porque depois da entrada na fábrica, a gente tinha dificuldades de saber o que o estava acontecendo. O nosso grupo se dividiu em dois: um se dirigiu ao Vale do Jatobá, de onde sairiam alguns ônibus e outro grupo ao Bairro Tirol.  Passamos correndo pela via férrea e o barulho que fazíamos assustou um outro grupo, que se escondeu debaixo de uma ponte. Anos depois eu viria saber, pelo Zé Geraldo, que ele integrava o grupo que se assustou conosco. Imaginaram ser a polícia em seus encalços. E como tinha policiais a serviço dos patrões! Foi uma noite tensa. A lua não apareceu.

A repressão violenta da polícia nos levou a uma ação radical: quebrar os ônibus. Numa rua semiescura do Tirol eu me coloquei no centro dela e deixei o ônibus se aproximar: arremessei uma pedra e acertei para-brisa, com o cuidado de atirá-la fora da área do motorista, que seguiu viagem.  Depois dessa ação nos dispersamos e retornamos cautelosamente  para nossas casas. Chegou-nos a notícia de vários ônibus com vidros quebrados, no pátio da Mannesman.

Enquanto isso, na Belgo-Mineira, os que entraram não conseguiram colocar as máquinas em funcionamento. Numa seção do ATC (alto teor de carbono), um operário ligou a máquina, mas foi desautorizado por outro.

* Rádio Peão era a comunicação que fazíamos face a face.




J Estanislau Filho



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