quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Retrospectiva 2014 - segundo J Estanislau Filho.






Em 2014 tudo, ou quase tudo ficou mais transparente. Verdades e mentiras; amor e ódio; alegrias e tristezas; vida e morte. Situação e oposição. Tudo se espalhou com uma velocidade nunca antes imaginada.

     O Imagina na Copa bombardeava corações e mentes. A copa não se realizaria e mostraria ao mundo a incompetência do governo federal. Houve manifestações, vaias. Máscaras caíram. Fora o vexame da nossa seleção, a copa foi um sucesso. A vaia planejada veio da área vip. Um ódio longamente construído pelos donos das grandes empresas de comunicação. 

     O preconceito acentuou com o programa mais médicos. Com seus jalecos, a máfia de branco destilou ódio sobre os médicos estrangeiros. De forma ainda mais sórdida sobre os médicos cubanos. Os negros foram os que mais sentiram na pele o ódio e a falta de ética de parte da elite de jaleco branco. "Elas têm cara de domésticas". De uma tacada, ofenderam domésticas, médicos negros e negras cubanos. Outro argumento muito utilizado pelos reacionários foi a construção do porto de Mariel em Cuba em detrimento da saúde e da educação. Ecoava o grito de "vai pra Cuba".

     Nova derrota imposta aos destiladores de ódio. O mais médicos, embora não tenha resolvido os problemas da saúde, atenuou muito, em especial ao dos usuários de comunidades de difíceis acessos.

     As organizações Globo (que sonegaram 615 milhões de impostos), em conluio com a revista Veja, Folha, enfim, com os grandes veículos de comunicação, incluindo as rádios, que receberam a alcunha de PIG (Partido da Imprensa Golpista) não davam (e não dão) tréguas à situação e protege a oposição. Se fatos não existiam, inventavam factoides. Os coxinhas se assanhavam. Pseudo-líderes nasciam como capim tiririca e tinham seus segundos de fama na telinha. Um se destacou nas redes sociais: Lobão, um entre outros olavetes, reinaldetes.
     
     Ano de eleições, o projeto da oposição de voltar ao poder, com apoio aberto e escarrado dos barões da mídia não logrou êxito. Dilma disparava na preferência do eleitor. Inicialmente apostaram em Marina Silva, que não conseguiu o registro de seu partido, a Rede Sustentabilidade. Filia-se ao PSB e vê suas chances de conquistar a presidência com a morte trágica (até hoje mal explicada) de Eduardo Campos. Marina encosta em Dilma, segundo as pesquisas. Aécio Neves despenca. Enquanto isto a Comissão Nacional da Verdade busca documentos sobre o período da ditadura militar.

     Quando tudo indicava um segundo turno entre Dilma e Marina, uma viagem da ex senadora aos Estados Unidos,  muda o cenário e Aécio Neves sobe nas pesquisas, ultrapassa Marina. Euforia no sistema financeiro; neoliberais privatistas se assanham. Os conservadores mostram suas garras. Surgem as primeiras denúncias de corrupção na Petrobrás, que por meio da Polícia Federal e da Operação Lava Jato (ainda em processo de investigação) leva à cadeia vários empresários envolvidos. 
     Depois de uma campanha despolitizada, de ataques e ausência de propostas concretas (programas de governo), Dilma se reelege. Se a oposição tinha a Globo & Cia, Dilma tinha Lula e a militância, agora com a força das redes sociais. Aécio é derrotado em seus dois estados: Minas, onde fez carreira política e no Rio de Janeiro, seu lar. Findada as eleições alguns internautas se dizem de luto. Do outro lado alguém diz "aceita que doi menos". Luciana Genro aparece como alternativa à esquerda. 

     Três notícias ruins para o candidato Aécio Neves teve pouca repercussão na mídia empresarial: 1 - o helicóptero com 450 kg de pasta de cocaína, pertencente aos aliados, Senador Zezé Perrella e seu filho, o Deputado Gustavo Perrella. 2 - A construção do Aeroporto de Cláudio-MG, construído com dinheiro público em benefício da família de de seus apaniguados. 3 - A liberação de dinheiro público para as rádios e tv's de propriedade do candidato tucano.

     Nas redes sociais os amigos virtuais apresentam suas posições. Alguns se agridem e se excluem. Surgem fakes, robôs a serviço de seus candidatos. Tudo fica mais nítido. Outros tantos não saem dos muros; outros dizem que odeiam política. Impossível, diante das tensões, manterem-se neutros. Os argumentos são sofistas. E há quem peça o retorno dos militares. Ah, os poetas, alguns conseguem ficar de fora do debate. "Não, só quero fazer poesia".

    A seca atingiu em cheio o sistema Cantareira. Os paulistas tiveram de recorrer ao carro-pipa, aos baldes. E o governador avançou sobre o volume morto.

    A economia mundial patina. Desemprego em alta. Estados Unidos, Europa. A Espanha passa dos 26% da população economicamente ativa desempregada. O gigante chinês desacelera. Conflitos étnicos e religiosos continuaram provocando guerras. Israel bombardeia a Faixa de Gaza, num conflito ad infinitum.

     Ainda no plano internacional, Estados Unidos e Cuba se reaproximam após 50 anos de bloqueio econômico. O governo brasileiro teve papel importante na costura do acordo. E o porto de Mariel, duramente atacado pelos conservadores, agora é considerado estrategicamente um sucesso, pelos mesmos que condenavam.

     Se no futebol as coisas não foram boas para a seleção brasileira, o ano foi ótimo para os mineiros. Cruzeiro sagrou-se campeão brasileiro e o Atlético levantou, pela primeira vez a taça da Copa do Brasil.

     Faleceram em 2014, além do político do PSB, Eduardo Campos, Roberto Bolaños, mexicano pai do Chaves, Seu Madruga, entre outros; Marly Marley; Eduardo Coutinho; Paulo Goulart; Canarinho; José Wilker; o escritor, autor de Cem Anos de Solidão, Gabriel Garcia Marquez; o locutor esportivo Luciano do Valle; Mãe Dináh; Jair Rodrigues; o jogador de futebol Fernandão; Robin Willians; Ariano Suassuna, entre outros.

     O Deputado Jair Bolsonaro diz não estuprar a Deputada Maria do rosário, porque ela não merece.

     No plano pessoal, terminei de escrever dois livros: O romance (ou novela) A Construção da Estrada de Ferro, iniciado pelos idos de 1978; A Moça do Violoncelo e Estrelas - dois livros em um.


J Estanislau Filho

Desejo às amigas e aos amigos, leitores e leitoras um feliz 2015.


22 comentários:

  1. Que bom fazer parte desta retrospetiva!
    Feliz 2015!
    Beijo ppoeta!

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  2. Parabéns Stan. Retrospectiva com propriedade, na sua visão e muito bem redigida.Tudo o que escreve é denso e com seriedade. Não é um blá blá blá. Valeu o esforço. feliz Natal! Parabéns pelos livros. Que 2015 venha com força, paz e realizações pessoais e sociais. Espero muito deste próximo ano. Atitudes a tomar, crescimento a buscar. Abraço da Olynda

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  3. Foi sem dúvida um ano maravilhoso!
    Que bom vivenciar e partilhar com você,amigo Zé.
    FELIZ 2015!

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  4. Uma boa tarde Stan.
    Quanto tempo não nos encontramos por estas paginas aqui como no Recanto.
    Um ano duro amigo, destes que buscamos esquecer. Decepções espalhadas por todos os lados. Uma onde de corrupção que nos deixa de boca aberta com a cara de pau deste povo. Fato positivo a aproximação de Obama com Raul e pondo fim neste bloqueio a Cuba.
    Vamos sonhar com um 2015 de mais seriedade e punição aos que roubam e erram deliberadamente.
    Belo trabalho com as criticas devidas.
    Um abraço e bom Natal nesta Gerais.
    Felicidades.

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    1. Penso, meu caro Toninho, que a corrupção, que não é de agora, tem agora a chance de, senão acabar, pelos menos dar fim à impunidade. Vamos que vamos., feliz 2015.

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  5. A retrospectiva está muito bem redigida, com a ressalva de que o ano muda e as pessoas, no geral continuam as mesmas, isto não é pessimismo. Festas Natalinas bloqueiam muito raciocínios. E 2014 estancou muitos paradoxos, Poeta Estanislau*****, parabéns. Luiza Michel, leitora amiga!

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    1. Eu acredito na evolução, nada fica estagnado, inclusive as pessoas. Abraço, feliz 2015.

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    2. Estagnação é impossível, a partir do momento em que respiramos pela enésima vez, já estamos diferenciados no ato de existir. E a evolução se dá segundo após segundo, através da própria natureza, caro Poeta - Por isto disse, "2014 estancou muitos paradoxos" grata

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    3. Penso que as contradições se apresentaram de forma transparente. Evolução significa superar paradoxos. Pode ser que uns e outras não tenham esta percepção, de superar paradoxos, ou seja, manterem-se alienadas. Pode ser. Abraço e obrigado pelo bom debate. A dialética e suas teses, antíteses e sínteses.

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  6. Excepcional e verdadeiro relato de retrospectivas de fatos. Pena que logo todos esquecerão que o Brasil perdeu de 7 X1 para a Alemanha porque o tempo corre na velocidade da luz.

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  7. Este foi um ano em que a luta pela democracia e pela manutenção de um governo popular e vitorioso foi o grande acontecimento. Tenho a alegria de poder dizer que eu sou uma das pessoas que trabalhou para isso na internet que foi a grande impulsionadora da candidatura de Dilma Rousseff e da verdade que a mídia vendida esconde e manipula o tempo todo. Fazer parte desse processo com presença constante e muito trabalho me diz que eu não sou uma aposentada, apenas não tenho mais um trabalho formal. Hoje pessoas de qualquer idade têm a oportunidade de participar com todos que se manifestam nesta enorme janela onde o Brasil desfila e é tomografado e pode ser visto como nunca. Eu que já li jornal e acreditei, já assisti a noticiários de tv e acreditei , estou podendo me passar a limpo junto com o meu país. Sem qualquer sombra de dúvida o Brasil hoje e tb. a América do Sul vivem um momento crucial de retomada de seus destinos, de sua autodeterminação. Saber que o novo livro vai sair mais aquele de projeto antigo me anima a repensar o meu projeto de livro que não saiu da gaveta. O amigo Stan é sempre um astral muito alto e alguém que nos inspira por sua trajetória de vida como homem político, poeta, e ser humano. Estou muito curiosa pra ler os seus novos livro, especialmente aquele projeto lá dos anos setenta que sendo terminado hoje terá a visão do autor jovem e do autor maduro, e isso promete. Somos todos privilegiados em poder , graças à internet, publicar textos e interagir com os leitores. Dessa forma, via virtual é que os autores se tornam mais humanos e palpáveis. Democracia da literatura também, onde todos têm oportunidade de se expressar e ser lidos. Um grande abraço e um feliz Natal e Ano Novo com muita saúde, amor e dinheiro, nesta ordem...rss..

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    1. Um comentário em forma de análise. Sou testemunha da sua militância virtual. A consciência prossegue. Abraço, volte sempre e feliz 2015.

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  8. Querido amigo Stan, relendo tua crônica, diria que tudo nesta vida evolui, o que pensamos pela manhã já não o é mais à noite.

    2014 para mim foi em especial um ano de grande reencontro pessoal para mim, com amigos, escritores, parentes e tantos outros. Politicamente, também foi positivo, com tantas demandas e absurdos... Enfim, quero refazer o meu comentário desta forma que está aqui, querido escritor Estanislau***** que amo ler, conviver poeticamente e como amigo, que somos.

    No plano pessoal, você terminou dois livros e ganhará mais alguns leitores, pois, teus escritos são todos agradáveis de se ler e não censuram as opiniões externas.

    Deixo aqui um feliz 2015 e que possamos estar sempre juntos nesta jornada, chamada POESIA *****. Grata, beijos meus. Luiza De Marillac Bessa Luna Michel.

    "Em 2014 tudo, ou quase tudo ficou mais transparente. Verdades e mentiras; amor e ódio; alegrias e tristezas; vida e morte. Situação e oposição. Tudo se espalhou com uma velocidade nunca antes imaginada." (JEF)*****

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  9. Retrospectiva detalhada e objetiva dos acontecimentos do ano que se finda. Visão dos fatos que marcaram as vidas de todos nós. Parabéns.

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  10. Conheci Stan (gostei) quando batalhamos na construção de um sonho coletivo.
    Abrimos a possibilidade da edificação do sonho em comum, coletivo, mais visando os que não teriam a condição de colocar a sua pedra do que visando o nosso bem estar.
    Pude ver a sua capacidade de criar, seja no cotidiano da história, da vida ou da arte.
    A amizade perdurou e transcendeu aquele momento, como acontece quando a sinceridade atravessa os ondas cibernéticas e podemos ultrassonografar a personalidade, o caráter, o posicionamento no mundo.
    Hoje vemos que o sonho está adiado. Mas não acabou.
    Ainda nos encontramos nas suas belas criações, sejam em letras ou imagens.
    Estamos vivos, ainda comungamos, creio, um ideal e temos a arte como fio condutor da nossa amizade.
    Quero agradecer-lhe pela amizade e em partilhar sua arte, seu remanso, sua presença entre meus amigos.
    E quando o chamado se fizer imperativo, quero acreditar que nos daremos as mãos novamente para escrevermos juntos o roteiro do sonho que não acaba.
    Obrigada, Zé.

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    1. Eu quem agradece pela leitura atenta, como registra o seu comentário. Abraço, sempre bem-vinda, Diana.

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